Selfie eu não faço

"Selfie eu não faço" é uma variação da série Invasão de Privacidade. Ela surgiu quando percebi uma nova virada na forma como nos representamos: o momento em que as câmeras dos celulares passaram a apontar para nós mesmos. Isso começou a se popularizar no Brasil por volta de 2013, com a chegada em massa de smartphones com câmeras frontais e o crescimento do Instagram, que incentivava a exposição da própria imagem como linguagem cotidiana.

​

Com isso, as câmeras passaram a ter dois lados — um voltado para o mundo, e outro, para nós mesmos. Essa simples mudança representou uma verdadeira revolução no modo como nos vemos e nos mostramos. Ficamos ainda mais obcecados pela própria imagem. Passamos a nos retratar diariamente, às vezes compulsivamente. Muitos perfis nas redes sociais tornaram-se galerias de si mesmos: a mesma pessoa, o mesmo rosto, repetido sobre fundos indistintos. O que importa não é o lugar, nem a experiência — é o corpo em primeiro plano, o eu performado.

​

O nome da série nasceu de uma fala espontânea da minha irmã mais nova. Num momento em família, alguém pediu que fizéssemos uma selfie. Ela respondeu, com naturalidade: "Selfie eu não faço." Rindo, perguntei o motivo. Ela disse: "Quem está na frente sempre sai com o rosto maior e distorcido." Achei genial. Além de ser uma recusa lúdica a participar do jogo da autoimagem, sua observação apontava para algo mais profundo: essa distorção da nossa presença, causada por uma lente que sempre nos coloca no centro, mas nunca como realmente somos.

​

Desde que o termo selfie foi eleito a palavra do ano pelo Oxford Dictionary em 2013, essa forma de autorrepresentação não deixou de me fascinar. O nome da série caiu como uma luva: é uma crítica sutil e bem-humorada à performance constante de existir diante das câmeras — e, por extensão, diante da sociedade.